Há cerca de 100 anos iniciou-se o controle de crescimento microbiano, a partir de estudos feitos por Louis Pasteur e Joseph Lister, sendo aplicado na indústria, área laboratorial e hospitalar. A escolha do método de controle microbiano depende do material e do nível de controle que se deseja obter. O controle de microrganismos significa redução da carga microbiana e até mesmo morte e perda da capacidade reprodutiva, tendo como alvos celulares, a parede celular; membranas citoplásmicas; enzimas e proteínas; RNA e DNA.
Métodos de controle do crescimento microbiano
O crescimento celular pode ser controlado por diferentes métodos:
- Métodos físicos: Temperatura, radiação, filtração. Dessecação, remoção de oxigênio e Vibração ultrassônica.
- Métodos químicos: Desinfetantes, antissépticos preservativos usados em alimentos.
Existe uma variação muito grande em termos de sensibilidade entre os microrganismos e os endósporos dos procariotos aos métodos físicos e químicos de controle.
Métodos físicos
Os métodos físicos são muito utilizados para promover a descontaminação, a desinfecção e a esterilização. Os métodos mais utilizados para atingir estes objetivos usam como princípio o calor, as radiações e a filtração.
Temperatura: Calor seco e úmido
O calor é um dos mais importantes métodos para o controle e eliminação dos microrganismos. Acima da temperatura ideal de crescimento o calor vai promover a desnaturação de proteínas estruturais e enzimas, levando a perda da integridade celular.
O calor seco elimina os microrganismos também por processo de oxidação. O calor úmido na forma de vapor tem o maior poder de penetração e eliminar as formas vegetativas dos procarióticos, vírus e fungos e seus poros. A morte por calor é uma função exponencial que ocorre à medida que a temperatura menor será o valor D (maior temperatura, menor D). Deste modo, são necessárias rápidas exposições à temperatura alta, para grande redução no número dos microrganismos viáveis.
Métodos que empregam o calor úmido
Autoclave
Equipamento que emprega vapor d’água sob processo que produz a temperatura mínima de 121ºC. Quanto maior a pressão da autoclave mais a temperatura, estes métodos destroem as formas vegetativas e esporuladas a procariotos e fungos, promovendo a esterilização. Os príons são uma exceção por serem agentes extremamente resistentes aos métodos de desinfecção e esterilização. A autoclavação é um método muito usado em laboratórios e hospitais. Existem dois tipos de autoclaves:
- Autoclave gravitacional: o ar é removido por gravidade e sai por um ralo na parte inferior da câmera à medida que o vapor é injetado. O aquecimento é feito de fora para dentro.
- Autoclave com sistema de vácuo: o ar é previamente removido por vácuo. Quando o vapor entra penetra instantaneamente os artigos na ausência de ar residual.
Pasteurização
Método muito usados na indústria de alimentos, que só podem ser submetidos ao calor em condições controlados para não desnaturar os nutrientes. Na pasteurização ocorre uma redução no número dos microrganismos pela exposição breve a uma temperatura relativamente alta.
Água em ebulição
É o vapor d’água livre (100ºc/20 min.). Destrói as formas vegetativas e alguns endósporos (dependendo da temperatura e da espécie de bactérias).
Métodos que empregam calor seco
Estufa e formo
Tem menor poder de penetração do que o calor úmido, usam temperatura e tempos maiores. A característica em comum entre os métodos é ausência de umidade, o que torna o processo menos eficiente e demorado.
Flambagem
Ocorre combustão completa dos microrganismos em alças e agulhas microbiológicas, as quais são aquecidas diretamente na cama do bico de Bunsen até ficarem rubras.
Incineração
É a combustão completa para descontaminação de material hospitalar de uso descartável (luvas, material plástico) e lixo contaminado em geral.
Baixas temperaturas
A baixa temperatura é um método de controle dos microrganismos porque causa diminuição na taxa de crescimento e na atividade enzimática. Pode não causar a morte celular. Os microrganismos patogênicos são geralmente mesofilos (não crescem a 5º C), embora existam exceções como amostras de Clostridium botulinum que crescem a 5ºC.
Métodos que empregam baixa temperatura
Refrigeração
Nos microrganismos comuns (0-7ºC) a taxa metabólica da maioria dos microrganismos é tão reduzida que eles não podem se reproduzir. A refrigeração comum tem mais efeito bacteriostático, entretanto, microrganismos psicrófilos crescem lentamente em baixas temperaturas, alterando o sabor dos alimentos após algum tempo, como, por exemplo, as pseudômonas. O método é usado para a preservação de alimentos durante período limitado.
Congelamento
Usado para preservar alimentos nas residências e na indústria alimentícia. As temperaturas abaixo do congelamento, obtidas rapidamente tendem a tornar os micróbios dormentes, mas não necessariamente os matam. O congelamento lento faz com que cristais de gelo se formem e cresçam rompendo as estruturas celulares e moleculares das bactérias.
Radiação
As radiações constituem um método eficaz para reduzir ou eliminar os microrganismos. Existem vários tipos de radiações, eletromagnéticas como o raio x e radiações ionizantes, ultravioletas e micro-ondas.
Radiação Ultravioleta
Esta radiação não ionizante tem sua atividade microbicida na faixa de comprimento de onda 240-280 nm, sendo 260 nm o comprimento mais efetivo para eliminar microrganismo.
Este tipo de radiação é mutagênico e leva a formação de dímeros de timina, que impedem a ação da DNA polimerase. Tem ação microbicida, mas baixo poder de penetração, por isso seu uso é recomendado apenas em superfícies (não atravessa sólidos muito pouco em líquidos). Muito eficaz na inativação dos vírus.
Micro-ondas
É a radiação com os maiores comprimentos de onda do espectro eletromagnético (1nm a 1m). As frequências dos fornos de micro-ondas são sincronizadas para combinar níveis de energia em moléculas de água. No estado liquido as moléculas de águas absorvem rapidamente a energia do micro-ondas, liberando-a para alimento na forma de calor. Materiais que não contem água permanecem frios (papel, porcelana, plástico), enquanto os que a contem ficam quentes.
Filtração
A filtração pode ser usada para esterilizar gases e líquidos que são sensíveis ao calor. Os filtros são compostos por grande variedade de matérias sintéticos podendo ser filtros de celulose, acetado, amianto, policarbonato, teflon ou outro material sintético com poros de 0,2-0,25m. O uso da filtração é recomendado para materiais termolábeis em solução e na descontaminação do ar, em fluxos laminares e sistemas de ventilação nos quais o controle microrganismo é especialmente importante como salas de cirurgias e enfermarias de tubérculos e unidades de queimados.
Dessecação
Os métodos que utilizam como princípio a dessecação removem a água, como os microrganismos necessitam dela para seu crescimento, estes procedimentos são eficazes para o controle do crescimento microbiano, o mais usado é a liofilização.
Liofilização
É o congelamento rápido do material sob N² e posterior remoção da água por sublimação, sendo convertida diretamente do estado solido para o gasoso. Este método bacteriostático é menos destrutivo que o congelamento. É usado na indústria de alimentos (café, leite) e na preservação de cultura bacteriana.
Defumação
Consiste na diminuição do teor de água por exposição de alimento (carnes, peixes) durante horas ou dias a fumaça de madeira em combustão.
Remoção do oxigênio
Previne o crescimento de microrganismo aeróbio. Muito usado na indústria de alimentos (café, enlatado). No caso do café, usa o empacotamento a vácuo.
Vibração ultra-sônica
Consiste em vibrações sonoras de alta frequência que levam ao rompimento de células, despolimerização de compostos e quebras do DNA
Métodos Químicos
São substâncias químicas de origem natural ou sintética usadas para eliminar ou inibir o crescimento dos microrganismos. A resposta dos microrganismos aos agentes químicos varia em relação a fatores tais como pH, temperatura, presença de matéria orgânica, fase de multiplicação e mesmo presença de outros agentes químicos.
De acordo com seu efeito nos microrganismos podem apresentar:
- Efeito estático (bacteriostático, fungistático ou virustático)- inibição do crescimento. Em condições normais os microrganismos podem voltar a crescer.
- Efeito microbicida (bactericida, fungicida, viruscida) – morte do microrganismo.
- Os agentes químicos podem ser usados para descontaminação, desinfecção, anti-sepsia ou esterilização. Têm maior efeito nas células vegetativas por terem metabolismo ativo.
Método da diluição de uso
Usado atualmente, determina a concentração apropriada do desinfetante e não compara com nenhum outro desinfetante-padrão como o método do fenol.
Antissépticos
Antissépticos são agentes químicos para uso tópico em tecidos vivos. Não podem ser ingeridos. Existe teste de toxicidade que são feitos em culturas de células para verificar o nível de toxicidade.
Índice de toxicidade (I)
É uma medida da toxicidade seletiva do antisséptico. Os testes são feitos em culturas de células e visam verificar a toxicidade do agente químico.
Agentes químicos
Desinfetantes e antissépticos
Agentes Alquilantes
Promovem a alquilação de grupos –COOH, -OH, -SH e –NH de enzimas e ácidos nucléicos inativando-os. Em virtude da capacidade de romperem ácidos nucléicos, podem causar câncer e não devem ser usado em situações nas quais possam afetas células humanas.
Glutaraldeído
O mecanismo de ação é a alquilação (entra como subtituto) dos grupos sulfidrila, hidroxila, carbonila e grupo amino, alterando o DNA e a síntese protéica.
Formaladéido (CH20)
Pode ser um agente esterilizante ou desinfetante. Ter ação sobre Gram-positivas e negativas, fungos, vírus, microbactérias e endósporos bacterianos. Para fins de esterilização, o tempo mínimo é de 18 horas tanto em solução alcoólica a 8% como aquosa a 10%.
Oxido de etileno (ETO)
Gás incolor, com grande poder de penetração e mutagênico, o óxido de etileno é misturado com gases inertes liquefeitos como freon (difluormetano) e o CO para diminuir o risco de inflamabilidade. Os vapores do óxido etileno são tóxicos para pele, olhos e membranas mucosas, além de serem cancerígenos. Existe monitoração biológica para este tipo de esterilização. O indicador usado é o Bacillus subtilis var niger.
Fenol
O fenol (ácido carbólico) e seus derivados fenólicos são agentes desnaturantes de proteínas. Os derivados possuem alterações na estrutura do fenol que aumentam a ação antimicrobiana e diminuem a toxicidade. Por exemplo: alqui-fenois (orto, metade paracresóis).
O fenol é mais usado para desinfetar superfícies e culturas que serão descartadas. Entretanto, dependendo da sua concentração, pode ter diferentes níveis de ação:
- Fenol 0,5-1% – anti-séptico
- Fenol 5%- desinfetante
O fenol promove uma desinfecção de nível médio ou intermediário. Podem ser usados para descontaminação de superfícies hospitalares, artigos metálicos e de vidro.
Binguanida
A clorexidina é um composto clorado, semelhante ao hexaclorofeno, que é eficaz contra vários micróbios, mesmo na presença de matéria orgânica. Muito usado no controle da densidade microbiana em pele e mucosas. Combinada com detergente ou álcool, também é usada para escovação cirúrgica das mãos e na preparação pré-operatória de pacientes.
Halogênios
Hipoclorito de sódio, cloro e Iodo
Cloro e compostos clorados
Agentes oxidantes, que oxidam grupos-SH e _NH de enzimas, inibando-as e inativando ácidos nucléicos são eficazes contra vírus, bactérias gram-positivas e negativas, fungos, microbactérias, todos os tipos de vírus e endósporos.
Solução de Iodo
Agente químico usado com desinfetante ou anti-séptico, é um forte agente ixidante ( completa e inativa proteínas) e pode ser usado na forma de álcool ioado. Têm ação contra células vegetativas, endósporos, vários fungos e alguns vírus.
Quaternários de Amônio (QUATS)
São desinfetantes surfactantes, detergentes iônicos, derivados da amônia. Possuem quatro grupos orgânicos ligados a um átomo de nitrogênico do ion amônio NH+. Considerados desinfetantes de baixa toxicidade e classificados com atividade de baixo nível, é mais efetivo contra bactérias Gram-positivas do que Gram-negativas P.
Peroxigênio
Próxido de hidrogênico, áciddo peracético e ozônio
Agentes químicos oxidantes
Peróxido de hidrogênio
O peróxido de hidrogênico é usado como agente esterilizante na indústria de alimentos para filtros e tubulações há muito tempo, em razão de sua eficácia, passou a ser usado em outras áreas, inclusive na prática hospitalar para antisséptico. É um agente antimicrobiano eficaz, quando utilizado isoladamente.
Gás plasma ou plasma esterilizante de peróxido de hidrogênico
Definido como o quarto estágio da matéria, o plasma é produzido altas temperaturas e em decorrência de um campo eletromagnético. É composto por nuvens de elétrons, íons e moléculas neutras. O sistema de esterilização utiliza o peróxido de hidrogênio como gás substrato. É um processo rápido que ocorre a baixa temperatura.
Ácido peracético
Este agente pode ser usado em baixas concentrações, possui rápida atividade contra microrganismos, procariotos, inclusive endósporos, fungos e vírus. Considerado desinfetante de níveis intermediários e altos. Decompõem-se produtos não tóxicos (água, oxigênio e peróxido de hidrogênio). É efetivo na presença de matérias orgânica.
Ozônio
Forma altamente reativa do oxigênio que é gerada passando o oxigênio através de descargas elétricas de alta voltagem. É frequentemente usado para suplementar o cloro na desinfecção da água. Apresenta a vantagem de ser microbicida sem contaminantes. A desvantagem é ser mais caro que o cloro, sem atividade residual.
Álcoois
Promovem a desnaturação de proteína e desorganização dos lipídeos de membrana. São indicados para desinfecção de níveis abaixo ou intermediário. Os álcoois na contração 60-90% são excelentes bactericidas, principalmente paras as formas vegetativas. Atuam também sobre células de Mycobacterium tuberculosis, alguns fungos e vírus lipofílicos. Sua indicação é para desinfecção de artigos e superfícies; e o tempo de exposição recomendado é 10 minutos.
Metais pesados
Os metais pesados usados em agentes químicos são o selênio, o mercúrio, cobre e a prata. O nitrato de prata já foi muito usado para prevenir infecções oftálmicas por gonococos em bebês na hora do parto, mas depois foi substituído por antibióticos.
Sendo de suma importância o controle do crescimento microbiano em qualquer área profissional, na fisioterapia não poderia ser diferente, a manipulação do paciente, o local de trabalho, objetos e equipamentos utilizados no tratamento de pessoas devem ser higienizados de forma adequada, a fim de evitar a propagação de micróbios existentes no meio, no profissional e até mesmo no paciente, proporcionando a descontaminação e combatendo a disseminação de doenças.
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