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Pedagogia liberal tradicional: o autoritarismo como base da aprendizagem

Fundamentada nas ideias iluministas, a Pedagogia Liberal Tradicional foi à base da educação escolar por mais de quatro séculos, mantendo sua influência até hoje. Essa tendência surge por volta do século XVI, como uma alternativa à escola medieval, de base religiosa.

Nesse período, vive-se um momento de exaltação da razão e da liberdade, a inversão e/ou superação da fé pela razão, da crença pela ciência. É neste contexto que John Locke desenvolve uma nova concepção da mente infantil e, consequentemente, de educação, enfatizando o papel do mestre em proporcionar experiências fecundas que auxiliem a criança a fazer uso correto da razão.

Para isso, a escola deve centrar-se no ensino da História, da Geografia, das Ciências Naturais e, principalmente, da Contabilidade e das escriturações comerciais, visando à preparação mais ampla para a vida prática, seguindo as ideias iluministas que irão garantir o avanço dos ideais liberais capitalistas desta época.

Qual o significado do termo literal?

O termo liberal não tem o sentido de “avançado”, “democrático”, “aberto”, como costuma ser usado. A doutrina liberal apareceu como justificação do sistema capitalista que, ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais da sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classe. A pedagogia liberal, portanto, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade (LIBÂNEO, 1994, p. 54).

Com o avanço da industrialização, a escola passa a ter um papel importante na difusão das ciências. A influência positivista fica clara ao vermos a ênfase dada ao estudo de conteúdos enciclopédicos, na tentativa de tratar de assuntos que, direta ou indiretamente, ajudariam no desenvolvimento das Ciências Naturais. Para ARANHA (1996, p. 160), “essa tendência é responsável pelo cientificismo que marcou muitas vezes a escolha dos currículos escolares”.

Com o intuito de formar indivíduos capazes de desempenhar seu papel na sociedade (papel historicamente definido e imutável), a Pedagogia Liberal Tradicional baseia-se em três procedimentos básicos: o governo, a instrução e a disciplina.

A visão do governo

O governo consiste no controle da agitação infantil, aplicado inicialmente pelos pais e depois pelos mestres, visando submeter à criança às regras do mundo adulto e tornando possível o início da instrução. (…) A instrução é o procedimento principal da educação e baseia-se no desenvolvimento dos interesses (…). Formar moralmente uma criança é educar sua vontade, e isso somente pode ser feito por meio de maior clarificação das representações e do crescimento das ideias na mente da criança. (…) A disciplina é o procedimento pelo qual se mantém firme a vontade educada no propósito da virtude (ARANHA, 1996, p. 161).

Para garantir o melhor desenvolvimento do conhecimento da criança, essa tendência propõe cinco passos formais: preparação – revisão do conteúdo anterior; apresentação – o mestre repassa o novo conhecimento; assimilação – o aluno faz ligação do novo com o velho, percebendo semelhanças e diferenças; generalização – o aluno constrói concepções abstratas a partir de suas experiências; aplicações por meio de exercícios o aluno aplica o que aprendeu.

Podemos perceber que este método está baseado no conhecimento do mestre/professor, em um caráter “magistrocêntrico”, isto é, o professor tem toda a autoridade, pois é ele quem detém o conhecimento, e cabe a ele transmiti-lo aos alunos.

A relação entre aluno e professor

É uma relação vertical, em que o aluno é o receptor, e o professor, o detentor de todo o conhecimento historicamente construído. O aluno é educado para alcançar sua plenitude, por meio de seu esforço próprio. Segundo Libâneo (1994):

Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm qualquer relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da palavra do professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente intelectual (LIBÂNEO, 1994, p. 55).

O conceito final de Pedagogia Literal Tradicional

A Pedagogia Liberal Tradicional prega que a preparação dos indivíduos para o desempenho de seus papéis sociais, por meio de suas aptidões individuais, deve ser o objetivo da educação.

Para tal, ela deve estar centrada no ensino de aspectos culturais sem que estes revelem as desigualdades sociais. Mesmo pregando a igualdade de oportunidades, essa tendência não revela a desigualdade de condições.

Parafraseando Fleuri (1994), o objetivo de tal educação seria a formação do indivíduo como sujeito capaz de ter opiniões próprias, com o intuito de tirar proveito das oportunidades que a sociedade oferece.

Assim, ao formar o indivíduo como sujeito livre e autônomo, os processos educacionais contribuiriam para adaptar sua satisfação individual, estabelecendo relações de competição que estimulariam cada um a se desenvolver ao máximo, de tal modo que a soma dos sucessos individuais resultasse “automaticamente” no progresso da sociedade como um todo.

A Pedagogia Liberal desenvolve-se, ao longo da História, em várias tendências: tradicional, liberal renovada, renovada progressivista, renovada não diretiva e liberal tecnicista. Libâneo (1994) explica-nos resumidamente cada uma delas:

A tendência liberal renovada acentua, igualmente, o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. Mas a educação é um processo interno, não externo; ela é parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao meio.

A educação é a vida presente, é à parte da própria experiência humana. (…) A tendência liberal renovada apresenta-se, entre nós, em duas versões distintas: a renovada progressivista, ou pragmatista, principalmente na forma difundida pelos pioneiros da Educação Nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira (deve-se destacar, também, a influência de Montessori, Decroly e, de certa forma, Piaget); a renovada não diretiva, orientada para os objetivos de autorrealização (desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers (LIBÂNEO, 1994, p. 55).

E continua dizendo que:

A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparação de ‘recursos humanos’ (mão de obra para indústria). A sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também cientificamente) nos alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas (LIBÂNEO, 1994, p. 55-56).

No decorrer de sua implementação, a Pedagogia Liberal teve características diferenciadas, de acordo com o público a ser ensinado. No início, predominava o ensino dos homens, por meio das escolas de meninos, como os seminários e escolas integrais.

Nessas escolas, o currículo era voltado para o ensino das ciências, para a preparação de líderes, intelectuais, administradores, doutores e assim por diante, seguindo as cinco regras já tratadas anteriormente.

No decorrer dos anos, implementaram-se as escolas para moças, voltadas para o ensino religioso, para regras de conduta, as chamadas aulas de etiqueta, ensinava-se também economia doméstica.

Em ambos os casos, os (as) alunos (as) eram filhos (as) da elite que, preocupada em dar as melhores oportunidades aos seus herdeiros, colocava seus filhos em escolas integrais, que seguiam as concepções da Pedagogia Liberal. Para os filhos dos trabalhadores, cabia a escola básica, de meio período, a qual reproduzia o modelo autoritário. Para Fleuri (1994, p. 56), “analogamente, o modelo liberal de educação somente se torna possível para uma minoria, quando para a maioria se aplica o modelo autoritário”.

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